Senhor, Cristo Jesus,
Pleno rei da terra e céu,
Cumpriu o supremo destino:
Ele nos resgatou!
Das trevas se fez luz
E um dia maior nasceu,
Grande, imensurável, divino.
Ele ressuscitou!
Quando as palavras podem ter sentido, ou nem por isso.
Senhor, Cristo Jesus,
Pleno rei da terra e céu,
Cumpriu o supremo destino:
Ele nos resgatou!
Das trevas se fez luz
E um dia maior nasceu,
Grande, imensurável, divino.
Ele ressuscitou!
Naquela cruz, prostrado,
Pela ímpia e crua maldade,
Está Jesus, crucificado,
P´la vida da humanidade.
Mas surgirá de novo a luz
Num novo e lindo alvorecer;
Se morreu por nós, Jesus,
Virá bem-vindo a renascer.
...E quem não sonha, acordado,
De olhos fixos, luzentes,
Ou quem não viaja, parado,
De pés cansados, dormentes?
Somos o que não somos, até,
Que sejamos o que quisermos:
Deitados, morrendo em pé,
Alevantados, no chão enfermos.
Por tudo e por nada,
Por esta palha dá cá,
Já é frase cansada,
O "malta, bora lá!"
Apetece dizer; -Basta!
De tão foleiro que soa.
Já cansa de tão gasta
Porque se diz tão à toa.
Não que não se possa,
Dizer a interjeição,
Mas, assim, faz mossa
Na fala da perfeição.
Pois, bora lá, isto!
Pois, bora lá aquilo!
O borá lá, está visto,
Vende-se bem, ao quilo.
De tanto falar, bora lá,
Calão usado e abusado,
Por borá lá, por borra cá,
Ainda se acaba borrado.
Vá lá, só mais um bora, lá!:
Pronto! bora lá! Acabou!
Já, pois, não está cá
Quem tal coisa assim falou.
Ali, na capelinha sobranceira
Ao regato que embaixo passa,
Está Jesus, o Senhor do Bonfim;
Porque numa prece derradeira,
Em alcançando tamanha graça
Alguém lá a fez, simples assim.
Quando a fé ao divino se abraça
O Homem toma-se de tal coragem,
Mas poucos sabem porque o foi;
Dizem que por atendida a graça
De um bom fim em penosa viagem,
Ou por resgatado à morte um boi.
Que engraçado,
Dizerem que a vida são dois dias!
Quase como num fado
Cantando lamentos e melancolias.
Outros, porém, dirão:
A vida tem apenas os dias destinados.
Do berço ao caixão
Muitos ou poucos, apenas dias contados.
O resto, pouco conta,
Nestas vãs contas de contar por dias a vida
Coisa de pouca monta
Quando a morte, por fim, a dar por resolvida.
Numa manhã de Primavera,
A árvore desperta e floresce,
E dessa fria e longa espera
A magia do fruto acontece.
Mas se o tempo é contratempo,
Não passa a flor de vã promessa.
Virá seco o Verão e sedento,
O adormecimento, e tudo recomeça.
Como seres feitos, imperfeitos,
Parece-nos este acto tão injusto:
Ver na natureza os seus defeitos
Por uma flor ser só ela, sem fruto.
A natureza, porém, tem este preço,
Uma roda de morte e vida, assim,
Em que há tempo para o recomeço,
Até que se cumpra o derradeiro fim.
Em meio século tanta coisa mudou
Numa vivência livre, sem cela,
Ali, na sombra solene da capela,
Ponto de partida do quanto sou.
Tanta coisa coisa já desaparecida:
As crianças, o recreio, a escola,
O monte livre, rude campo da bola,
Os grilos na toca na relva escondida.
Mas há a sombra do velho sobreiro,
Figura austera, dono desse monte,
Confidente, amigo, ou só companheiro.
Mas do tempo já passado a memória,
Embalada no canto da fresca fonte,
Ressoa no presente em hino de glória.
Que linda data esta, o dia de quem é Pai
E Jesus, de Deus Filho, foi-o de S. José.
No parto a mãe deitada, o pai ali, em pé,
No nascer de um um filho que de ambos sai.
Tão grande e lindo, profundo mistério,
Ser mãe, ser pai, afinal o nascimento,
Onde o amor criador tem merecimento
O contraponto da morte ou cemitério.
Ser pai, é ser tronco, ramos raiz,
Flor delicada transformada em fruto
Num merecimento, grande ou diminuto.
Ser pai, é uma graça bendita, feliz,
Na pureza de um homem, no amor impoluto
Na descoberta plena de ser absoluto.
Ando no mundo, tanto tempo passado,
Num viver de apressado, galopante,
Como anão com passos de gigante,
Como quem se procura desencontrado.
Corro em frente a um destino mais além
Sem alcançar o tempo que avança lá à frente
Numa ânsia desejada, louca, premente,
Desilusão de quem tudo tendo nada tem.
Serei eu, afinal, nesta corrida sem meta,
Não mais que o rasto brilhante de cometa,
Uma pedra atraída como ao planeta a lua?
Ou talvez, ave sem ninho, besta sem covil,
Um banal cidadão, homem igual a outros mil
Ou somente um caminhante que avança sem rua?